Talvez a maneira mais eficiente de melhorar sua habilidade para ouvir seja concentrar-se em seus comportamentos de atenção. Há três maneiras principais de demonstrar a atenção: física, psicológica e verbalmente. Na prática, é difícil separar uma da outra, mas o faremos aqui, a fim de enfatizar uma delas por vez.
Atenção física
Demonstar atenção física implica que você, como ouvinte, adote uma atitude de envolvimento: deixe evidente à pessoa que fala que vocêa está acompanhando por meio de gestos ou postura. Resultados de várias pesquisas indicam que os seguintes fatores são importantes para uma atitude positiva de atenção física:
" Olhar de frente a pessoa que fala;
" Manter bom contato visual;
" Manter uma postura receptiva;
" Permanecer relativamente relaxado.
Pense em como se sente, por exemplo, ao falar com alguém que aparenta estar sonolento. É possível que tal pessoa esteja tentando ouvir de fato, embora aparente o contrário. Que efeito isso causa em você? O segredo da atenção física é demonstrar que se está ouvindo efetivamente o que a outra pessoa diz. Essa é a razão por que os pontos mencionados anteriormente são importantes. Cada uma das atitudes citadas envia de forma discreta àquele que fala a mensagem de que ele está sendo objeto de sua total atenção e que deve, portanto, prosseguir sem receios.
Olhar de frente aquele que fala mostra que você está concentrado no que ele diz. Ele vê você olhando diretamente e a atenção que você está dando não se desvia para a janela ou para a parede.
O contato visual direto também ajudará a transmitir a mensagem silenciosa: "Estou atento". É claro que o contato visual não significa que você deva fixar-se no indivíduo que fala com olhos parados e intimidadores: isso seria desconcertante! Um bom contato visual implica olhar nos olhos da pessoa que fala mais do que você está habituado a fazer. Isso ajudará a minimizar a interferência de distrações visuais, tais como o gráfico e a figura do calendário, aos quais nos referimos anteriormente.
Todavia, olhar de frente a pessoa que fala e manter contato visual não é o bastante para mostrar que você está efetivamente ouvindo; uma postura receptiva também deve ser adotada. Possivelmente, a melhor forma de ilustrar esses pontos seja a atitude típica que assumimos ao receber boas notícias. Nesses momentos, cada um de nós se torna "todo ouvidos" e não perde uma só palavra do que é dito. A atitude que assumimos em tais ocasiões não é a de nos sentarmos de braços cruzados ou distantes de quem fala. Não se brinca com os botões da blusa, não se fica conferindo as horas, nem olhando distraidamente para um pedaço de papel, nem inspecionando as unhas, nem tampouco fazendo outra coisa que possa demonstrar desatenção. Nesses casos, permanecemos praticamente imóveis, não apenas escutando por escutar mas colocando os ouvidos à disposição incondicional de quem nos fala. Essa é a atitude de alguém que deseja ouvir de fato, e essa prontidão é comunicada claramente a quem fala.
Há mais um ponto que se associa à atenção física; trata-se de estar relativamente relaxado, o que não significa ficar à vontade a ponto de parecer desleixado ou displicente. Estar relativamente relaxado significa apresentar tranqüilidade, mas interesse na pessoa que fala. Essa atitude física será evidente e positiva. Suponhamos agora que você fique entusiasmado com aquilo que ouve: seria errado demonstrar entusiasmo? Não, mas é importante que você exerça um autocontrole para impedir que as idéias comecem a viajar em sua mente, de maneira a fazê-lo desviar sua atenção daquilo que está sendo dito. Essa é uma questão de equilíbrio. Se, por outro lado, a pessoa que fala estiver nervosa, sua atitude calma também irá ajudá-la a relaxar. Em outras palavras, o comportamento de quem fala passará, pouco a pouco, a entrar em sintonia com o seu. Tal é o poder que nosso comportamento exerce sobre os outros!
Uma coisa é saber o que se deve fazer, outra é colocar em prática o que se sabe. Tente num primeiro instante concentrar-se em um único dos pontos discutidos, toda vez que estiver ouvindo alguém falar. Procure na semana seguinte concentrar-se no primeiro ponto, ou seja, "olhar quem fala de frente". Na semana subseqüente, procure concentrar-se num segundo ponto, "olhar nos olhos", e assim por diante. À medida que você se concentrar em cada um dos pontos mencionados, procure estabelecer uma comparação entre seu "comportamento de atenção" anterior e o atual. Tornou-se mais fácil ouvir efetivamente a mensagem de quem fala?
A expectativa é de que tenha havido uma sensível melhora em sua capacidade de ouvir, muito embora colocar cada um dos pontos em prática exija certo esforço. Uma vez que você tenha desenvolvido sua "atenção física", o próximo passo será concentrar-se na mensagem propriamente dita. Isso é o que se costuma chamar "atenção psicológica". Preste atenção também em como aqueles a quem você ouve estão reagindo à sua melhora quanto à habilidade de ouvir. Eles parecem mais à vontade agora? Você está ouvindo coisas que não ouvia antes?
Atenção psicológica
A atenção psicológica envolve não apenas escutar aquilo que a pessoa diz, mas também seu comportamento não-verbal, ou seja, a maneira como diz e as mensagens enviadas por meio de sua expressão facial, postura corporal, uso das mãos e outros indicadores físicos.
Como se aprende a ter "atenção psicológica"?
Para começar, é preciso que você desenvolva habilidade e disposição para concentrar-se na pessoa que fala e:
" Naquilo que está sendo dito;
" Como está sendo dito;
" No que não está sendo dito;
" Nos sentimentos e emoções que estão sendo expressos, ou não.
Concentrando-se na pessoa que fala e na mensagem que ela está transmitindo, tirando outros assuntos e preocupações de sua mente, você se tornará mais consciente de todos os pontos que acabam de ser mencionados. Tornar-se-á igualmente atento à voz daquele que fala e ao ritmo de seu discurso.
Ter atenção psicológica significa não se deixar arrastar ou envolver pelo conteúdo emocional do que está sendo dito mas, ao contrário, tentar ser um ouvinte neutro, procurando compreender o ponto de vista daquele que fala: em outras palavras, estabelecer uma relação de empatia com ele. Não é fácil manter-se neutro, sobretudo se a pessoa que fala estiver usando palavras carregadas de emoção.
Se você, porém, souber interpretar essas palavras e a linguagem corporal que as acompanha, não apenas passará a avaliar a mensagem mais corretamente, como também dará a si mesmo a oportunidade de perceber aquilo que falta ao discurso, o que deixou de ser dito.
Nunca interromper a pessoa que fala é uma das regras mais importantes para o aprimoramento de suas habilidades como ouvinte.
De início, pelo menos, isso não é fácil. Você anseia participar, deixarse envolver e fazer parte do que está sendo dito. É necessário, porém, saber o momento certo de participar, assim como reconhecer quando é direito do outro falar.
Controlar o ímpeto de interromper e de levantar objeções prematuras pode ser difícil, mas os resultados desse autocontrole sobre sua capacidade de ouvir e os frutos que ele produz serão compensadores.
Atenção verbal
É claro que para ouvir efetivamente você precisará escutar, compreender e interpretar aquilo que a outra pessoa estiver dizendo. Concentrar-se no que está sendo dito significa estar atento ao tema central da mensagem mais do que simplesmente ater-se a fatos isolados que sejam notadamente difíceis de lembrar. O que é que a pessoa está dizendo de fato? Caso você não capte a linha de pensamento daquele que fala ou o ponto exato em que algo foi dito sem a necessária clareza, será preciso questioná-lo. Esse questionamento, por si só, mostrará que você está ouvindo efetivamente
Você deixa claro que ouve quando:
" Estabelece contato visual;
" Balança a cabeça pisitiva ou negativamente;
" Faz perguntas;
" Resume de alguma forma o que está sendo dito;
" Constrói novas idéias a partir do que foi dito;
" Evita fatores de distrações tasi como toque de telefone ou interrupções por outras pessoas;
Tais questões estão relacionadas àquilo que a pessoa está dizendo de fato. Ouvir com a mente também significa buscar o sentido oculto do que está sendo dito, do que se esconde por trás das palavras e nas entrelinhas. Parte disso diz respeito ao objetivo daquele que fala. Você sentirá dificuldade em compreender inteiramente as palavras sem ter conhecimento das intenções da pessoa que fala ao utilizá-las. Quais seriam possivelmente essas intenções?
" Obter aceitação
" Justificar um curso de ação
" Gerar dúvidas
" Impor um ponto de vista
" Promover concórdia
" Liberar frustações
" Explorar dúvidas
" Valorizar uma visão pessoal
" Adular o ouvinte
" Disfarçar emoções
" Oferecer um ombro amigo
" Buscar apoio
" Provocar deliberadamente
" Angariar confiança
" Clarear idéias
" Amedrontar o ouvinte
" Racionalizar uma situação
" Menosprezar acontecimentos
Uma avaliação crítica das palavras e a identificação acurada das intenções da pessoa que fala indicam que o ouvinte está ouvindo com a mente. Tais intenções podem não ser tão evidentes como parecem num primeiro momento: a intenção (ou intenções) real pode ser bem diferente. Não é preciso que se tenha conhecimento das técnicas e estratégias utilizadas por aquele que fala para que as mesmas surtam os resultados esperados. Portanto, as palavras, assim como as razões que se escondem por trás delas, devem ser alvo constante de questionamento. Tal questionamento constitui disciplina mental positiva, que para a maioria das pessoas é adquirida somente com a prática. Não é algo que aconteça espontaneamente, o que prova que o ato de ouvir é uma atividade e caráter ativo, e não passivo, como muitos acreditam. Um questionamento contínuo em relação não apenas ao que está sendo dito mas também por quê está sendo dito, requer esforço mental. Está, pois, claro que ouvir não implica apenas ficar em silêncio.
Lembre-se: questionar mentalmente é uma das características da atenção psicológica; questionar verbalmente, outra. É o que veremos a seguir.
Extraido do livro "Como ouvir as pessoas" de Ian MackaY pag 26-31
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